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O fio condutor da biologia

“A evolução é o tema central da biologia – um fio condutor que atravessa todos os capítulos deste livro.” …assim começa a introdução do Campbell, um manual científico amplamente utilizado. As frases anteriores explicam: “Os processos evolutivos explicam tanto as semelhanças quanto a diversidade dos organismos. Características partilhadas por duas espécies derivam da sua descendência de um ancestral comum; diferenças entre espécies resultam da seleção natural modificando gradualmente essas características […] como uma máquina sendo reconstruída enquanto continua a funcionar.” [1]

armadilha de rato – Novos projetos requerem muitas pequenas mudanças e só oferecem vantagem quando a transformação está concluída e funcional.

Esta passagem foi escrita por um cientista natural. Um engenheiro, no entanto, provavelmente franziria a testa com a imagem de uma “máquina a ser reconstruída enquanto continua a funcionar”, pois tal coisa não existe. Integrar construções novas num sistema já funcional é algo bastante problemático (e fases de construção “a meio caminho” também não são visíveis nos fósseis) – mas isso é apenas um à parte.

Muitos biólogos vêem o processo evolutivo omnipresente como o “fio vermelho” que liga todos os ramos das “ciências da vida”. Uma citação famosa afirma: “Nada em biologia faz sentido exceto à luz da evolução.” [2]

Após quase trinta anos de trabalho em investigação biológica, não posso senão estranhar tal afirmação. As funções e interligações que estudámos em vários projetos faziam todo o sentido na sua complexa interação e, idealmente, revelavam possibilidades de intervenção terapêutica – o nosso objetivo no desenvolvimento de substâncias farmacêuticas. O que nunca experienciei durante esse tempo foi que a especulação sobre a possível história de origem das estruturas-alvo tivesse qualquer relevância. A “luz da evolução” parece brilhar noutro lugar …

De facto, o “fio condutor” na forma de uma história evolutiva que remonta todos os seres vivos a uma origem comum é completamente irrelevante para as ciências aplicadas. Por outro lado, as mudanças observáveis recentemente (microevolução) têm um papel importante em áreas como a ecologia, microbiologia, virologia, imunologia e genética. No entanto, a extrapolação histórica – a extensão do princípio observado de mudança limitada para uma transformabilidade ilimitada desde a origem – não é necessária na investigação prática. [3]

A busca por padrões, significado e conexões lógicas é profundamente humana. Pode-se mesmo afirmar que a racionalidade e a procura de sentido só podem existir se houver um originador racional e superior. No entanto, é amplamente aceite que a ideia de uma história evolutiva natural é o único conceito racional de origem. Afinal, a nossa experiência e observação sugerem que as coisas complexas não aparecem subitamente, mas desenvolvem-se com o tempo (como a planta da semente ou o animal do ovo). O registo histórico parece confirmá-lo. Desde os relatos mais antigos, encontramos ideias de ascendência e desenvolvimento em concorrência com as narrativas da criação que, quando desligadas da revelação bíblica, frequentemente degeneraram em mitos na idolatria pagã.

Ambos os conceitos acabam por se deparar com o problema do “início primordial”: o que existia antes de haver algo? Quando cosmólogos hoje falam do “nada” no início [4], normalmente referem-se a um “vácuo quântico” ou “espuma quântica”. Mas isso não é nada!

Nada é a ausência absoluta de qualquer coisa. Se realmente não havia nada no início, a origem de algo teve de ser sobrenatural, porque onde não há “natureza”, não há leis naturais nem “processos naturais”. Um naturalista que recusa essa conclusão lógica para uma origem sobrenatural acaba por acreditar em “flutuações quânticas desde a eternidade”, tal como um teísta acredita num “Deus eterno”. Nenhum dos dois é compreensível para a nossa mente.

Com razão se afirma que a experiência mostra que cada ser vivo provém de outro muito semelhante. Por isso, a semelhança biológica, que pode ser expressa de muitas formas, é interpretada como prova de origem comum.

Mas recorrer à lógica e à intuição neste ponto é arriscado, porque a ideia de que animais tão diferentes como uma baleia-azul e um morcego descendem de um ancestral comum semelhante a um rato não corresponde à nossa simples expectativa de semelhança. Pelo contrário, observamos que a descendência sempre produz descendentes muito semelhantes. A argumentação seria coerente se se pudesse rastrear uma transformação gradativa na sequência de antepassados fósseis cada vez mais diferentes – mas esse não é o caso!

Hoje em dia, a reconstrução filogenética preocupa-se cada vez menos com as semelhanças externas entre organismos, como estudadas por anatomistas e taxonomistas, e mais com as semelhanças bioquímicas e especialmente genéticas. O sequenciamento completo de genomas permite quantificar a semelhança – muitas vezes com resultados surpreendentes.

A “parentesco genético” entre humanos e chimpanzés, por exemplo, foi durante muito tempo apontado como 98–99% – ainda afirmado em muitas publicações – embora os dados de sequências mostrem agora apenas cerca de 84% de semelhança. O “mito dos 2%” está ultrapassado, e uma divergência genómica de 16% apresenta um panorama diferente. Estudos recentes com ratos – apesar de terem pouca semelhança exterior com humanos – indicam divergências da mesma ordem. Esta visão ligeiramente corrigida é apenas uma peça do puzzle, mas levanta uma questão geral: O que significa uma semelhança em %?

Um pepino, uma alforreca, uma nuvem e uma Super Bock consistem todos em cerca de 95% de água e são, portanto, muito semelhantes quimicamente. Mas o que isso nos diz? É preciso considerar em que nível estão a ser comparadas as entidades. Ao nível mais fundamental, tudo o que é material é composto pelos mesmos blocos atómicos e subatómicos – sendo, portanto, 100% semelhante. Em níveis mais elevados, as diferenças tornam-se maiores. A observação mencionada de que o genoma do rato é tão semelhante ao humano como o do chimpanzé pode sugerir que o genoma está num nível estrutural ainda muito baixo. Em níveis mais elevados (anatomia, organização cerebral, percepção, comunicação e comportamento de aprendizagem), há de facto uma maior semelhança entre humanos e chimpanzés do que entre humanos e ratos. A ideia de antepassados semelhantes a macacos não seria descabida com base apenas na comparação de formas – se o ser humano descendesse do animal.

O decisivo é agora subir ainda mais alto. No nível mais elevado, não existe mais semelhança. De um lado, temos o “espírito” (Deus e as Suas criaturas dotadas de espírito – anjos e humanos – entre os quais há semelhança), e do outro lado, o “não-espírito”, o resto da criação.

Até hoje, não existe um modelo plausível que explique a origem do espírito (e das características espirituais como consciência, vontade, moral e linguagem) a partir do não-espírito. Este problema revela-se, ao ser analisado mais profundamente, tão insolúcvel como a origem da matéria a partir do não-material, da vida a partir do não-vida, ou da informação a partir do não-informativo. Este impasse explicativo é por vezes mascarado com expressões vagas como “epifenómeno” ou “emergência”, criando uma aparência de inevitabilidade. Isso leva a afirmações otimistas: “Num universo com 10^500 possibilidades, tem de existir o ‘certo’ onde há matéria; assim que houver água líquida num planeta rochoso, a vida pode surgir; um cérebro suficientemente complexo desenvolverá autoconsciência e espírito.” – Nenhuma destas hipóteses pode ser cientificamente comprovada.

A interpretação da semelhança como evidência de origem comum também se baseia num raciocínio analógico. Hoje observamos descendência dentro das espécies e aplicamo-la ao passado. Mas essa não é a única analogia possível. É igualmente “intuitivo” reconhecer a “caligrafia” de um mesmo autor comum nas semelhanças. Isso também corresponde à nossa experiência. Construções semelhantes têm o mesmo planeador, construtor, autor ou arquiteto. Especialistas conseguem identificar a autenticidade de quadros de mestres antigos analisando o traço do pincel. Não apenas o traço, mas também a forma como a tinta é aplicada e misturada são características típicas de um artista. Do mesmo modo, pode-se reconhecer traços estilísticos típicos em arquitetos, compositores, poetas e autores.

O elemento unificador nesta perspectiva é o design genial de todos os seres vivos. Esta característica óbvia é reconhecida até por um dos principais defensores do naturalismo ateu, que afirmou: “A biologia é o estudo de coisas complicadas que parecem ter sido projetadas para um fim.” [5]

No entanto, ele considera essa aparência uma mera ilusão. Naturalistas sinceros deveriam sentir-se incomodados pelo facto de não podermos falar ou pensar sobre sistemas biológicos sem lhes atribuirmos objetivo, finalidade e significado – que não podem existir num universo governado pelo acaso.

Vamos retomar a imagem linguística do fio condutor. Em alemão, fala-se de um “fio vermelho” (roter Faden). Esta expressão remonta ao príncipe dos poetas alemães, Goethe, que a explicou da seguinte forma: “Ouvimos falar de uma particularidade na marinha britânica. Todas as cordas da frota real, desde as mais grossas até às mais finas, são torcidas de modo a conter um fio vermelho que atravessa tudo, que não pode ser removido sem desfazer tudo e pelo qual até os pedaços mais pequenos são identificáveis como pertencentes à Coroa.” [6]

É interessante que esta expressão idiomática, pela sua origem, não só sugere unidade e coerência através de uma característica comum, mas também aponta para o proprietário de tudo. Não a origem comum, visível nas semelhanças, mas a assinatura do mesmo Criador, evidente por design altamente inteligente, diversidade exuberante e beleza arrebatadora, é o fio condutor da biologia.

“Desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas.” Romanos 1:20

Referências

[1] Campbell, NA: Biologie (S. 15). Heidelberg (Spektrum) 2012

[2] „Nothing in Biology Makes Sense Except in the Light of Evolution” Dobzhanski, T: American Biology Teacher 1973; 35:125-129; doi:10.2307/4444260

[3] Die „Evolutionsforschung“ ist hier natürlich eine Ausnahme, wobei sie ja auch eher der Grundlagenforschung als der angewandten Wissenschaft zuzurechnen ist.

[4] Zum Beispiel: „Da es ein Gesetz wie das der Gravitation gibt, kann und wird sich das Universum aus dem Nichts erzeugen.“ Hawking, S: Der große Entwurf. Reinbek (rororo) 2010; S. 177

[5] “Biology is the study of complicated things, that give the appearance of having been designed for a purpose.“ Dawkins, R: The Blind Watchmaker (S. 4). New York (Norton) 1996

[6] Goethe, JW von: Wahlverwandtschaften. Tübingen (Cotta‘sche) 1809; 2. Kapitel, 2. Teil

Credios da imagem

“Maus-Baustelle” – Ferdinand Georg

„Blauwal und Fledermaus”, “VW und Porsche” – Cornelius vom Stein

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